Carta para Miguel.


''Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"- CFA

Começo com algo que não é meu, mas expressa o que tenho a falar. Eu tentei te escrever a tarde inteira, mas tudo que escrevi rasguei, apaguei, quase coloquei fogo. Mas essa vontade de querer dizer não me deixa em paz, e vem me deixando com uma vontade de gritar, de quebrar, de fazer um estrago. Eu sei, eu gosto é do estrago. Mas antes eu preciso dizer, dizer que venho perdendo o equilíbrio a muito, e que minha vontade é jogar pro alto a amargura e me melar do que houver de mais doce. Tenho algo me apertando o peito, e você não vem amor, você não vem me curar. E eu não consigo achar o que eu fiz de errado, eu só sei que a vida deu um nó, e daqueles nós que não desatam se não tiver experiência. Não consigo desatar nem nó de cardaço, quem dirá nó da vida?. Eu canso de esperar, de esperar que as coisas mudem, pois eu já cansei de mudar, e não vou mais mudar. Escrevo com tanta força, que chego a acreditar que meus dedos vão sangrar. Ah agora me reconheço, aqui está o drama, rei da minha vida que não se afasta, e nem ousa se afastar.
Eu ainda busco entender o porque da vida, o porque disso, o porque daquilo. E veja, ainda tenho interrogações. Você me prometeu respostas? Já não me lembro. Mas não esqueço que tenho que saber, eu preciso saber, mas saber o que? Já estou farta de querer entender minha vida, mas os caminhos dela, as pessoas que passam e saem como num piscar de olhos, eu busco entender. Porque por mais que seja supérfluo para todos, a chegada de alguém é como uma pista da minha vida, a partida é como se essa pista fosse um caminho que segui e só fez com que eu me perdesse. E eu me perdi, me perdi no claro-o claro sempre me ardeu os olhos- me perdi bem na ponta do meu próprio nariz.
Mas não falhei na missão, pois ainda vivo, e por mais que haja dias que queira o contrário, eu ainda busco as minhas respostas, os meus caminhos, busco o amadurecimento da minha alma, que o final eu já sei, minha alma se unir a sua, e assim reincidir a paz. Eu entendo que a cada esquina que me perco, mais me afasto de você, mas perder-se também é caminho, e meu objetivo é te encontrar, me encontrar. Mas estou deixando a responsabilidade para o universo amor, pelo menos por enquanto. Enquanto me recupero da perdas, das deixas, dos desafetos, enquanto cresço e deixo de ser menina.
Sinto a sua falta. Sinto falta da sua proteção. Minha alma pesa, sinto como se ela estivesse obscura. Mas busco a minha paz. Paz de espírito.
A gente se sente.

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